quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ferreira Gullar


Pensem nos trabalhadores,nos sofrimentos imbuídos nas relações de emprego e de poder.Que caminho produtos como o açúcar percorrem até chegar a nossa mesa?Que valor é dado ao trabalhador rural?Que vida tem o agricultor,o bóia-fria,o homem da terra?O que é que você tem a ver com isso?Leiam o poema...

O açúcar


O branco açúcar que adoçará meu café

Nesta manhã de Ipanema

Não foi produzido por mim

Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro

E afável ao paladar

Como beijo de moça, água

Na pele, flor

Que se dissolve na boca.

Mas este açúcar

Não foi feito por mim.

Este açúcar veio

Da mercearia da esquina e

Tampouco o fez o Oliveira,

Dono da mercearia.

Este açúcar veio

De uma usina de açúcar em Pernambuco

Ou no Estado do Rio

E tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana

E veio dos canaviais extensos

Que não nascem por acaso

No regaço do vale.

Em lugares distantes,

Onde não há hospital,

Nem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fome

Aos 27 anos

Plantaram e colheram a cana

Que viraria açúcar.

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

E dura

Produziram este açúcar

Branco e puro

Com que adoço meu café esta manhã

Em Ipanema.

2 comentários:

  1. Nós nem pensamos neste caso e em tantos outro que existe (...) se pensarmos bem existe outros trabalho sofridos que não são enchergados e valorizados,por ser tão sofridos .

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